quarta-feira, 5 de novembro de 2008

É isto um homem?, de Primo Levi

Sem heróis nem vilões

Em É isto um homem?, o italiano Primo Levi narra a tragédia pessoal de sua permanência de quase um ano em Auschwitz, o maior campo de concentração nazista.
A chegada ao campo, a adaptação, as relações, o trabalho, tudo é descrito com os olhos espantados de quem acaba de chegar ao campo. Primo opta por um desenrolar tenso que, longe de tornar o livro chato, incute no leitor o peso que as personagens carregam nos ombros.
Conforme adentra a nova “sociedade” em que foi inserido, Levi descobre a hierarquia local. Os uniformes e os números tatuados no antibraço estabelecem as classes; os números menores (mais tempo de campo) colocam-se em uma classe superior, na qual se encontram os poloneses e os alemães; enquanto os novatos e os judeus, as classes inferiores, ficam à margem desta sociedade. Assim como no mundo externo, a mobilidade social é possível, Primo percebe isso e passa a lutar por ascensão, o que implica também uma luta contra sua própria moral e valer-se de práticas nem sempre éticas.
Tal luta é comum a todo o campo e ela altera muitos valores dos prisioneiros. Várias vezes Primo justifica ações recrimináveis dos internos (e suas também) como conseqüência da situação; nesse sentido, a pergunta título do livro não questiona apenas o regime nazista, mas também os prisioneiros, se pessoas que vivem em situações tão degradantes a ponto de perder a moral podem ainda serem considerados homens.O livro, ao invés de ser uma obra de ódio ao nazismo, é uma análise da moral humana em situações extremas. Os únicos momentos de ódio do livro são maldições do autor àqueles que se atreverem a esquecer o que aconteceu e permitir que a história se repita.

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